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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A compreensão da História - O precedente Histórico do Fascismo.


O texto seguinte apresenta uma análise do Professor Sérgio Paulo Muniz Costa, publicada no dia sete de novembro próximo passado. Esta análise trás um alerta da História para fatos recentes ocorridos no País, quando o PT questionou a atuação do Supremo Tribunal Federal no caso do “Mensalão” e às condenações aplicadas. Os grifos foram feitos por mim e o texto do professor foi “postado” em um grupo de discussão “BOP – Ordem e Progresso” do Facebook. Segue o texto:
"A História, fonte de conhecimento para tantas ciências sociais, é um caminho para a compreensão dos acontecimentos. Hoje, dispomos de muitas referências históricas para o entendimento das estruturas políticas contemporâneas, mas o megaestudo de caso das patologias sociais que ainda inquieta corações e mentes do século 21 é o que ocorreu na Alemanha há oitenta anos, o mais documentado episódio da era dos equívocos. Uma combinação trágica de voluntarismo com populismo.

O historiador Joachim Fest conta a resposta do indivíduo central dessa tragédia quando pediram a ele que considerasse a paz com a União Soviética, no outono de 1943: "Sabe, Ribbentrop, se eu entrar em acordo com a Rússia hoje, acabo declarando guerra novamente amanhã – esse é meu jeito". No caso, o "jeito" de Hitler significou a maior destruição da Europa do Leste desde a invasão mongol do século 13.
Um outro biógrafo de Hitler, Ian Kershaw, mostra como "planejadores, organizadores, teóricos da dominação e os tecnocratas do poder na liderança das SS viram a Polônia como um playground experimental" e, junto com políticos, servidores públicos "inventivos", oficiais e soldados, foram mortalmente eficazes na convicção de estarem "trabalhando para o Führer" – o que se explica naquilo que Renzo de Felice identificou como o "mito do chefe", essencial para um "regime político de massa".
 Povos se agitam e entram em conflito pelo que lhes parece justo. Como as pessoas, acertam e erram – mas como coletividades, seus acertos e erros são incomensuravelmente mais extensos e profundos à luz da História. Hoje, após muitos desastres, nossa civilização vive a pretensão de evitar o mal antes que se consume.
A devastação moral da Alemanha nazista ensina que não há equívoco atribuível a um só indivíduo, nem coletividades inocentes perante os infortúnios que ocorrem. O caso alemão foi um exemplo extremo de como energia, capacidade e determinação de um povo podem causar tanto mal.
Mais importante é a lição daí extraída: não há povos melhores do que outros a ponto de não correrem risco de errar. Com suas crenças, rivalidades e vulnerabilidades, todos estão sujeitos ao erro e a única coisa que parece diminuir sua extensão é o medo de cometê-lo.
O medo de errar fez da política também a arte de causar o menor mal possível, a nós e aos outros. Na organização das sociedades isto tem nome: instituições. Povos que souberam promover sua liberdade, segurança e prosperidade trataram de construir, em primeiro lugar, a forma de se governar de acordo com a lei a ser obedecida por quem vai governar.

Essa instituição, a primeira de todas, tem nome: Constituição.

O que a História ensinou nesta parte do mundo é que o governo não faz a Constituição: cumpre-a. Isto também tem nome: democracia. Portanto, quando o mito do chefe supera as instituições, a democracia está em risco.
É o que está acontecendo no Brasil. O partido político que governa o País há quase uma década se recusa a acatar o julgamento do Supremo Tribunal Federal sobre a prática política que o envolve no maior escândalo de corrupção de nossa história. Essa afronta às instituições, à Constituição e à democracia é justificada no discurso petista pelas "mudanças" que Lula teria promovido no País. O que a militância petista não percebe é que esse discurso coloca seu líder em estranha posição (que ele negou muitas vezes), semelhante à de um certo cabo Adolfo que mudou a Alemanha à custa de suas instituições, Constituição e democracia.
Em relação ao julgamento dos golpistas de Munique em 1924, como asseverou John Toland, "o sentido político das acusações [...] contra Hitler, Ludendorff e mais oito acusados ultrapassava de muito o destino pessoal de cada um dos réus. A nova república e a democracia também estavam em julgamento".
Acossada por todos os lados, a República de Weimar deveu sua sobrevida também à condenação de alguns dos responsáveis pelo Putsch, o principal deles Hitler, que, no entanto, sairia da prisão antes do prazo de detenção, ovacionado como herói graças à propaganda e à intimidação à Suprema Corte da Baviera.
Está fora de questão que esta República no Brasil se deixe intimidar, uma tentativa que deve causar a mais viva indignação à sociedade e, muito particularmente, aos militantes do PT.
Afinal, o precedente histórico também tem nome: fascismo.

Sérgio Paulo Muniz Costa
é historiador
Publicado no Diário do Comércio
em 07/11/2012"

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