RESPOSTA
DO GENERAL DE DIVISÃO REFORMADO DO EXÉRCITO FRANCISCO BATISTA TORRES DE MELO À
MIRIAM LEITÃO
Esta
carta foi escrita pelo General de Divisão Torres de Melo em resposta ao texto “Enquanto
Isso” da Jornalista Miriam Leitão. A carta é antiga, pois foi publicada em 2012,
mas mostra uma visão da História do Brasil e do momento atual, em que os
militares estão no foco das ações políticas servindo de “muletas” para
aventureiros, que nunca conseguiram manchar as atitudes e ações do Exército
Brasileiro e das FFAA. Elas que sempre foram, são e serão baluartes da Lei e da
Ordem, sendo fiéis escudeiros da Constituição e do povo Brasileiro. Boa
leitura.
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Marinha, Exército e Aeronáutica escudeiros do povo brasileiro |
“À
Senhora Jornalista Miriam Leitão
Li
o seu artigo "ENQUANTO ISSO", com todo cuidado possível. Senti, em
suas linhas, que a senhora procura mostrar que os MILITARES BRASILEIROS de
HOJE, são bem diferentes dos MILITARES BRASILEIROS de ONTEM.
Penso
que esse é o ponto central de sua tese. Para criar credibilidade nas suas
afirmativas, a senhora escreveu: "houve um tempo em que a interpretação
dos militares brasileiros sobre LEI E ORDEM era rasgar as leis e ferir a ordem.
Hoje em dia, eles demonstram com convicção terem aprendido o que não podem
fazer".
Permita-me
discordar dessa afirmativa de vez que vejo nela uma injustiça, pois fiz parte
dos MILITARES DE ONTEM e nunca vi os meus camaradas militares rasgarem leis e
ferir a ordem. Nem ontem nem hoje. Vou demonstrar a minha tese.
No
Império, as LEIS E A ORDEM foram rasgadas no Pará, Ceará, Minas, Rio, São Paulo
e Rio Grande do Sul pelas paixões políticas da época. AS LEIS E A ORDEM foram
restabelecidas pelo Grande Pacificador do Império, um Militar de Ontem, o Duque
de Caxias, que com sua ação manteve a Unidade Nacional. Não rasgamos as leis
nem ferimos a ordem. Pelo contrário.
Vem
a queda do Império e a República. Pelo que sei, e a História registra, foram
políticos que acabaram envolvendo os velhos Marechais Deodoro e Floriano nas
lides políticas. A política dos governadores criando as oligarquias regionais,
não foi obra dos Militares de Ontem, quando as leis e a ordem foram rasgadas e
feridas pelos donos do Poder, razão maior das revoltas dos tenentes da década
de 20, que sonhavam com um Brasil mais democrático e justo.
Os
Militares de Ontem ficaram ao lado da lei e da Ordem. Lembro à nobre jornalista
que foram os civis políticos que fizeram a revolução de 30, apoiados, contudo,
pelos tenentes revolucionários, menos Prestes, que abraçou o comunismo russo.
Veio
a época getuliana, que, aos poucos, foi afastando os tenentes das decisões
políticas. A revolução Paulista não foi feita pelos Militares de Ontem e sim
pelos políticos paulistas que não aceitavam a ditadura de Vargas.
Não
foram os Militares de Ontem que fizeram a revolução de 35 (senão alguns,
levados por civis a se converterem para a ideologia vermelha, mas logo
combatidos e derrotados pelos verdadeiros Militares de Ontem); nem fizeram a
revolta de 38; nem deram o golpe de 37.
Penso
que a senhora, dentro de seu espírito de justiça, há de concordar comigo que
foram as velhas raposas GETÚLIO - CHICO CAMPOS - OSWALDO ARANHA e os chefetes
que estavam nos governos dos Estados, que aceitaram o golpe de 37. Não coloque
a culpa nos Militares de Ontem.
Veio
a segunda guerra mundial. O Nazismo e o Fascismo tentam dominar o mundo.
Assistimos ao primeiro choque da hipocrisia da esquerda. A senhora deve ter
lido - pois àquela época não seria nascida -, sobre o acordo da Alemanha e a
URSS para dividirem a pobre Polônia e os sindicatos comunistas do mundo
ocidental fazendo greves contra os seus próprios países a favor da Alemanha por
imposição da URSS e a mudança de posição quando a "Santa URSS" foi
invadida por Hitler.
O
Brasil ficou em cima de muro até que nossos navios (35) foram afundados. Era a
guerra, a FEB e seu término. Getúlio - o ditador - caiu e vieram as eleições.
As Forças Armadas foram chamadas a intervir para evitar o pior. Foram os
políticos que pressionaram os Militares de Ontem para manter a ordem.
Não
rasgamos as leis nem ferimos a ordem. Chamou-se o Presidente do Supremo
Tribunal Federal para, como Presidente, governar a transição. Não se impôs
MILITAR algum.
O
mundo dividiu-se em dois. O lado democrático, chamado pelos comunistas de
imperialistas, e o lado comunista com as suas ditaduras cruéis e seus celebres
julgamentos "democráticos". Prefiro o primeiro e tenho certeza de que
a senhora, também. No lado ocidental não se tinham os GULAGs.
O
período Dutra (ESCOLHIDO PELOS CIVIS E ELEITO PELO VOTO DIRETO DO POVO) teve
seus erros - NUNCA CONTRA A LEI E A ORDEM - e virtudes como toda obra humana.
A
colocação do Partido Comunista na ilegalidade foi uma obra do Congresso
Nacional por inabilidade do próprio Carlos Prestes, que declarou ficar ao lado
da URSS e não do Brasil em caso de guerra entre os dois países. Dutra vivia com
o "livrinho" (a Constituição) na mão, pois os políticos, nas suas
ambições, queriam intervenções em alguns Estados, inclusive em São Paulo. A
senhora deve ter lido isso, pois há vasta literatura sobre a História daqueles
idos.
Novo
período de Getúlio Vargas. Ele já não tinha mais o vigor dos anos trinta. Quem
leu CHATÔ, SAMUEL WEINER (a senhora leu?) sente que os falsos amigos de Getúlio
o levaram à desgraça, eles eram políticos. Os Militares de Ontem não se
envolveram no caso, senão para investigar os crimes que vinham sendo cometidos
sem apuração pela Polícia; nem rasgaram leis nem feriram a ordem.
Eram
os políticos que se degladiavam e procuravam nos colocar como fiéis da balança.
O seu suicídio foi uma tragédia nacional, mas não foram os Militares de Ontem
os responsáveis pela grande desgraça, sabe bem disso!
A
senhora permita-me ir resumindo para não ficar longo. Veio Juscelino e as
Forças Armadas garantiram a posse, mesmo com pequenas divergências. Mais uma
vez eram os políticos que queriam rasgar as leis e ferir a ordem e não os
Militares de Ontem.
Nessa
época, há o segundo grande choque da esquerda. No XX Congresso do Partido
Comunista da URSS (1956) Kruchov coloca a nu a desgraça do stalinismo na URSS.
Os intelectuais esquerdistas ficam sem rumo.
Juscelino
chega ao fim e seu candidato perde para o senhor Jânio Quadros, a Esperança da
vassoura, Desastre total. Não foram os Militares de Ontem que rasgaram a lei e
feriram a ordem. Quem declarou vago o cargo de Presidente foi o Congresso
Nacional. A Nação ficou ao Deus dará. Ameaça de guerra civil e os políticos
tocando fogo no País e as Forças Armadas divididas pelas paixões políticas,
disseminadas pelas "vivandeiras dos quartéis" como muito bem alcunhou
Castello.
Parlamentarismo,
volta ao presidencialismo, aumento das paixões políticas, Prestes indo até
Moscou afirmando que já estavam no governo, faltando-lhes apenas o Poder. Os
militares calados e o chefe do Estado Maior do Exército (Castello) recomendando
que a cadeia de comando deveria ser mantida de qualquer maneira. A indisciplina
chegando e incentivada dentro dos Quartéis, não pelos Militares de Ontem e sim
pelos políticos de esquerda; e as vivandeiras tentando colocar o Exército na
luta política.
Revoltas
de Polícias Militares, revolta de sargentos em Brasília, indisciplina na
Marinha, comícios da Central e do Automóvel Clube representavam a desordem e o
caos contra a LEI e a ORDEM. Lacerda, Ademar de Barros, Magalhães Pinto e
outros governadores e políticos (todos civis) incentivavam o povo à revolta. As
marchas com Deus, pela Família e pela Liberdade (promovidas por mulheres)
representavam a angústia do País. Todo esse clima não foi produzido pelos
MILITARES DE ONTEM. Eles, contudo, sempre à escuta dos apelos do povo, pois
ELES são o povo em armas, para garantir as Leis e a Ordem.
Minas
desce. Liderança primeira de civil; a era Magalhães Pinto. Era a
contra-revolução que se impunha para evitar que o Brasil soçobrasse ao
comunismo. O governador Miguel Arraes declarava em Recife, nas vésperas de 31
de março: haverá golpe, só não sabemos se deles ou nosso.
Não
vamos ser hipócritas, a senhora, inteligente como é, deve ter lido muitos
livros que reportam a luta política daquela época (exemplos: A Revolução
Impossível de Luis Mir - Combates nas Trevas de Jacob Gorender - Camaradas de
William Waack - etc) sabe que a esquerda desejava implantar uma ditadura de
esquerda. Quem afirma é Jacob Gorender. Diz ele no seu livro: "a luta
armada começou a ser tentada pela esquerda em 1965 e desfechada em definitiva a
partir de 1968".
Não
há, em nenhuma parte do mundo, luta armada em que se vão plantar rosas e é por
essa razão que GORENDER afirma: "se quiser compreendê-la na perspectiva da
sua história, A ESQUERDA deve assumir a violência que praticou". Violência
gera violência e os políticos sempre jogam a responsabilidade em manter a ordem
aos militares. Afinal eles levaram a desordem.
Castello,
Costa e Silva, Médici, Geisel e João Figueiredo com seus erros e virtudes
desenvolveram o País.
Não
vamos perder tempo com isso. A senhora é uma economista e sabe bem disso.
Veio
a ANISTIA e João Figueiredo dando murro na mesa e clamando que era para todos,
pois Ulisses Guimarães não desejando que Brizolla, Arraes e outros pudessem
tomar parte no novo processo eleitoral, para não lhe disputarem as chances de
Poder. João bateu o pé e todos tiveram direito, pois "lugar de Brasileiro
é no Brasil", como dizia.
Não
esquecer o terceiro choque sofrido pela a esquerda: Queda do Muro de Berlim,
que até hoje a nossa esquerda não sabe desse fato histórico.
DIRETAS
JÁ! Sarney, Collor com seu desastre, Itamar, FHC, LULA e chegamos aos dias
atuais.
Os
Militares de Hoje, silentes, que não são responsáveis pelas desgraças que
vivemos agora, mas sempre aguardando a voz do Povo.
Não
houve no passado, nem há, nos dias de hoje, nenhum militar metido em roubo,
compra de voto, CPI, dólar em cueca, mensalões ou mensalinhos. Não há nenhum
Delúbio, Zé Dirceu, José Genoíno, e que tais. A corrupção e a desordem estão
ficando acima da lei e da ordem!
O
que já se ouve, passamos a escutar, é o povo dizendo: SÓ OS MILITARES PODERÃO
SALVAR A NAÇÃO.
Pois
àquela época da "ditadura" era que se era feliz e não se sabia...
Certo, houveram excessos contra os civis. Então me diga: Como controlar o que o
país vivia naquela época? Com vários grupos, uns querendo o comunismo, outro o
socialismo, outro o presidencialismo e a maioria a democracia. Se chegaria a um consenso na conversa? Existia controle social para tal?
Mas
os Militares de Hoje, como os de Ontem, não querem ditadura, pois são formados
democratas. E irão garantir a Lei e a Ordem, sempre que preciso.
Os
militares não irão às ruas sem o povo ao seu lado. OS MILITARES DE HOJE SÃO OS
MESMOS QUE OS MILITARES DE ONTEM. A nossa desgraça é que políticos de hoje
(olhe os PICARETAS do Lula!) - as exceções justificando a regra - são ainda
piores do que os de ontem. Estamos sem ética e sem moral, estão esquecendo os
bons princípios e mais, os políticos são despudorados.
O
Brasil vem sofrendo, não por conta dos MILITARES, mas de ALGUNS POLÍTICOS - uma
corja de canalhas, que rasgam as leis e criam as desordens, desrespeitam a
todos e só pensam na sobrevivência política, independente do preço a ser pago
pelo povo!
Como
sei que a senhora é uma democrata, espero que publique esta carta no local onde
a senhora escreve os seus artigos, que os leio atenta e religiosamente, como se
fossem uma Bíblia. Perfeitos no campo econômico, mas não muitos católicos ou
evangélicos no campo político por uma razão muito simples: quando parece que a
senhora tem o vírus de uma reacionária de esquerda.
Atenciosa
e respeitosamente,
GENERAL
DE DIVISÃO REFORMADO DO EXÉRCITO FRANCISCO BATISTA TORRES DE MELO
12
de março de 2012”
Francisco Batista Torres de Melo
General de Divisão (Ref)
12 de março de 2012