Referem-se estudiosos à existência de
uma conspiração do silêncio em relação
às atividades comunistas, como se elas constituíssem um tabu a ser
cuidadosamente evitado nos comentários e nas preocupações quotidianas. A área
ideológica tornou-se dificilmente transitável, evitando-se dar essa conotação
aos fatos, por mais evidente que ela seja.
Um dos partidos políticos brasileiros chegou até ao
cúmulo de negar, em documento oficial, a existência do conflito ideológico, uma
das realidades mais gritantes do mundo contemporâneo.
A “coexistência
pacífica”, eficiente arma do arsenal psicológico comunista, terá
contribuído bastante para criar esse estado de espírito, amaciando as resistências e as prevenções do Ocidente contra o
perigoso inimigo, conforme era objetivo deste último.
Este fenômeno tem criado situações esdrúxulas, como
aquela que é citada por Suzanne Labin (“Em cima da hora” – Distribuidora
Record;RJ.) ao afirmar que chegou-se ao absurdo de condenar muito mais os
anticomunistas definidos de que os próprios comunistas, como se aqueles que
querem defender as formas democráticas fossem mais nocivos do que os que as
querem destruir.
O anticomunismo racional deve ser visto, portanto,
como um meio essencial de defesa da democracia.
Foi por esta razão, sem dúvida, que o francês Jules
Monnerot, em seu livro “Desmarxizar a Universidade” (Editora Afrodite; 1978),
disse:
“Um
anticomunista é muito simplesmente um não comunista dotado, ao mesmo tempo, de
um quantum de lucidez e de um quantum de caráter, tais que, recusando sofrer o
contágio, ... não pode escolher a passividade.”
A também francesa Suzane Labin completa o conceito
em seu livro referido acima, quando diz:
“A luta
contra os anticomunistas conscientes se faz dentro de um registro político
primário, mas que dá resultado porque é modulado sem cessar e em todos os tons:
o anticomunismo é movimento de direita, fascista, negativo, obtuso, parcial,
sistemático...”.
Uma surpreendente peculiaridade dos sistemas
considerados democráticos é a sua incompatibilidade com o combate ao comunismo
e até mesmo com sua simples vigilância de suas incessantes atividades
subversivas, frequentemente não consideradas como tais. Este é o resultado de
hábil propaganda, facilitada pela extensa infiltração em todos os órgãos da
sociedade, sobretudo nos meios de comunicação social. E convenhamos que, a
persistir tal situação, isto significará um grande trunfo para a causa comunista
e correspondentemente uma derrota para as democracias.
De fato, os democratas para que possam ser assim
considerados, estão hoje simplesmente proibidos
de combater o comunismo. E os que se animam a fazê-lo, são logo destituídos
daquela nobre condição e incluídos automaticamente nas fileiras da direita.
Esta tendência foi gerada por um sofisma da
propaganda comunista, que adquiriu foros de estereótipos graças ao hábil uso da
arma psicológica. O sofisma se baseia em um silogismo, extremamente simplista, mas
que, apesar disto, tem funcionado.
Com efeito, após a II Grande Guerra, os soviéticos
o armaram e difundiram baseado nas seguintes proposições:
-
A URSS combateu a Alemanha e a Itália naquela
guerra.
-
A Alemanha e a Itália eram nazistas e fascistas,
respectivamente.
-
Logo, quem combate a URSS é nazista ou fascista.
A maioria das pessoas não vai em busca da verdade
que se esconde por detrás da conclusão falsa do silogismo. E esta verdade é que
antes de combater a Alemanha de Hitler, a URSS foi sua aliada, recebendo como
prêmio a Bessarabia e a Bucovina, desmembradas da Romênia, e metade da Polônia.
Só depois que Hitler resolveu atacar seu aliado da véspera é que a URSS foi
obrigada a se voltar para o lado dos aliados que, face às circunstâncias da
guerra, foram compelidos a aceita-la e apóia-la decisivamente.
Quem se dedica ao estudo do fenômeno comunista e
toma conhecimento das declarações de seus mais destacados líderes; quem estuda
o processo revolucionário através do qual o Movimento Comunista Internacional
se dispõe a conquistar o mundo para o comunismo; quem, finalmente, da um
enfoque racional a tal assunto, sabe perfeitamente que é o comunismo o maior e
mais perigosos inimigo das democracias, não apenas por seu embasamento
filosófico-doutrinário (hoje bastante abalado pela “perestroika”) mas sobretudo
por sua agressividade de todas as horas, respaldada em uma organização de
âmbito internacional.
Ora, se um democrata zeloso e convicto sabe disso,
terá necessariamente de combater o comunismo, não como um fim, mas seguramente
como um meio de proteger a democracia, que tanto preza.
Deve-se inferir daí, segundo o estereótipo em voga,
que este democrata passe automaticamente a ser “de direita”, apenas por ser
anticomunista?
Vê-se por aí a habilidade desse recurso
psicológico, que acaba por negar ao democrata o direito, e até o dever, não
apenas de combater, mas até de se definir contra o comunismo. A força desse
sofisma pode ser exemplificada pelo envolvimento que conseguiu de certos
partidos políticos, que entendem de manter a sua face democrática, em primeiro
lugar através de sua atitude herética de negar a existência de um conflito
ideológico no mundo; e depois, como corolário, através de sua transparência e
convivência com os comunistas.
E quando colocados contra a parede, tais elementos
o mais que dirão é que combatem tanto a direita, como a esquerda, acentuando a
sua equidistância de tais pólos, por temor de qualquer possível comprometimento
com a “direita”!
Entretanto, o enfoque ideológico, mesmo porque
viciado por tal sofisma, não é por si só válido para aferir padrões de
comportamento direitista. Há que recorrer também ao enfoque social, já que
entendemos o homem de direita como avesso às reformas nesse campo,
caracterizando-se por uma atitude reacionária e de defesa de privilégios.
A direita
é uma posição de todo incompatível com quem luta por uma democracia vigilante
e, ao mesmo tempo, se bate por reformas continuadas nos campos político, social
e econômico, em busca dos objetivos maiores da sociedade democrática, como
sejam a liberdade com responsabilidade, a dignidade essencial da pessoa humana,
o bem comum, a justiça social e o princípio de que o Estado existe para servir
ao homem, e não ao contrário.
Caberia tal reformista dentro da classificação de
“reacionário”, característica de uma posição de “direita”?
A.J. Paula Couto
General; escritor; em
“O desafio da Subversão”
1990
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