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domingo, 8 de setembro de 2013

O GLOBO E A SÍNDROME DE PINÓQUIO - por Sérgio Pinto Monteiro

 A imprensa brasileira não vive seus melhores momentos. Um dos mais populares jornais do país - O GLOBO - acaba de cometer uma lamentável atrocidade contra a verdade histórica do período dos governos militares que, em 1964, sucederam à deposição do presidente João Goulart. O artigo postado no site memória.  O globo sob o título “Apoio ao golpe de 64 foi um erro” é um primor de atentado contra a verdade dos fatos que deve nortear o bom jornalismo. É de fazer inveja à chamada imprensa marrom. Oitenta anos da obra de Roberto Marinho foram achincalhados - e desrespeitados - pela subserviência do Globo aos atuais “donos” do poder no Brasil. Reduz a adesão das Organizações Globo ao movimento de 1964 a um mero “erro editorial”, centrando o seu mea culpa no artigo “Ressurge a Democracia”, da edição do dia 02 de abril de 1964:

      “Vive a Nação dias gloriosos... Atendendo aos anseios nacionais, de paz, tranquilidade e progresso, impossibilitados, nos últimos tempos, pela ação subversiva orientada pelo Palácio do Planalto, as Forças Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a Nação na integridade de seus direitos, livrando-a do amargo fim que lhe estava reservado pelos vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal... Mas, por isto que nacional, na mais ampla acepção da palavra, o movimento vitorioso não pertence a ninguém. É da Pátria, do Povo e do Regime...” (O Globo, editorial do dia 02 de abril de 1964)

       Quase 50 anos depois, o jornal divulga uma matéria que, em última análise, procura mal disfarçadamente reduzir os leitores a um bando de idiotas “politicamente corretos”. A falsa retratação é de um primarismo total, capaz apenas de iludir uns poucos incautos, em geral jovens desinformados. O artigo procura restringir o conhecido apoio do jornal aos militares apenas ao editorial de 2 de abril. Como se, ao longo dos vinte e um anos de regime militar, O Globo - sempre a serviço dos poderosos - não se manifestasse, diariamente, a favor dostatus quo. Basta consultar os arquivos do jornal para constatar que o “equívoco de redação” era, na verdade, uma opção doutrinária - política e ideológica - das Organizações Globo, que perdurou enquanto os militares governaram o país. Assim se constata, ao verificar que, decorridos vinte anos da deflagração do movimento de 1964, escrevia Roberto Marinho:

       “Participamos da revolução de 1964 identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada... Não há memória de que haja ocorrido aqui, ou em qualquer outro país, um regime de força, consolidado há mais de vinte anos, que tenha utilizado seu próprio arbítrio para se auto-limitar, extinguindo os poderes de exceção, anistiando adversários, ensejando novos quadros partidários, em plena liberdade de imprensa. É esse, indubitavelmente, o maior feito da revolução de 1964.” 
                                             (Julgamento da Revolução, O Globo, 07/10/84)

      O revisionismo histórico ora em curso nos meios culturais brasileiros está gerando seus esperados maus frutos. Nesse contexto, a verdade é o que menos importa. Na concepção gramiscista, ela deve ser relativizada em benefício da “causa”. É a atualização da velha máxima “os fins justificam os meios”.  A iniciativa das Organizações Globo não resiste à clareza dos fatos históricos envolvidos. Ao reverso, se reveste das mais condenáveis características de uma imprensa venal, corrompida e voltada para interesses inconfessáveis, onde, segundo os “ensinamentos” de Goebbels, a mentira repetida ao extremo facilmente é aceita como verdade.
Roberto Marinho não merece ver a sua cria sucumbir, vitimada pela Síndrome de Pinóquio.
        
                                                                           Sérgio Pinto Monteiro*
                                                                                    Professor

*o autor é professor, historiador e oficial da Reserva Não Remunerada do Exército Brasileiro. É presidente do Conselho Nacional de Oficiais R/2 do Brasil, Diretor de Cultura e Civismo da Associação Nacional dos Veteranos da FEB, membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil e da Academia Brasileira de Defesa. É autor do livro “O Resgate do Tenente Apollo” (2005 - Ed. CNOR)

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