A imprensa brasileira não vive seus melhores momentos. Um dos mais populares
jornais do país - O GLOBO - acaba de cometer uma lamentável atrocidade contra a
verdade histórica do período dos governos militares que, em 1964, sucederam à
deposição do presidente João Goulart. O artigo postado no site memória. O globo sob o título “Apoio ao golpe de 64 foi um erro” é um primor de atentado contra a
verdade dos fatos que deve nortear o bom jornalismo. É de fazer inveja à
chamada imprensa marrom. Oitenta anos da obra de Roberto Marinho foram
achincalhados - e desrespeitados - pela subserviência do Globo aos atuais
“donos” do poder no Brasil. Reduz a adesão das Organizações Globo ao movimento
de 1964 a um mero “erro editorial”, centrando o seu mea culpa no artigo “Ressurge a Democracia”, da edição do dia 02 de abril de 1964:
Quase 50 anos depois, o jornal divulga uma matéria que, em última análise,
procura mal disfarçadamente reduzir os leitores a um bando de idiotas
“politicamente corretos”. A falsa retratação é de um primarismo total, capaz
apenas de iludir uns poucos incautos, em geral jovens desinformados. O artigo
procura restringir o conhecido apoio do jornal aos militares apenas ao
editorial de 2 de abril. Como se, ao longo dos vinte e um anos de regime
militar, O Globo - sempre a serviço dos poderosos - não se manifestasse,
diariamente, a favor dostatus quo. Basta consultar os arquivos do jornal para
constatar que o “equívoco de redação” era, na verdade, uma opção doutrinária -
política e ideológica - das Organizações Globo, que perdurou enquanto os
militares governaram o país. Assim se constata, ao verificar que, decorridos
vinte anos da deflagração do movimento de 1964, escrevia Roberto Marinho:
“Participamos da
revolução de 1964 identificados com os anseios nacionais de preservação das
instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, greves,
desordem social e corrupção generalizada... Não há
memória de que haja ocorrido aqui, ou em qualquer outro país, um regime de
força, consolidado há mais de vinte anos, que tenha utilizado seu próprio
arbítrio para se auto-limitar, extinguindo os poderes de exceção, anistiando
adversários, ensejando novos quadros partidários, em plena liberdade de
imprensa. É esse, indubitavelmente, o maior feito da revolução de 1964.”
O
revisionismo histórico ora em curso nos meios culturais brasileiros está
gerando seus esperados maus frutos. Nesse contexto, a verdade é o que menos importa. Na concepção
gramiscista, ela deve ser relativizada em benefício da “causa”. É a atualização
da velha máxima “os fins justificam os meios”. A iniciativa das
Organizações Globo não resiste à clareza dos fatos históricos envolvidos. Ao
reverso, se reveste das mais condenáveis características de uma imprensa venal,
corrompida e voltada para interesses inconfessáveis, onde, segundo os
“ensinamentos” de Goebbels, a mentira repetida ao
extremo facilmente é aceita como verdade.
Roberto Marinho não merece ver a sua
cria sucumbir, vitimada pela Síndrome de Pinóquio.
Sérgio Pinto Monteiro*
Professor
*o autor é professor,
historiador e oficial da Reserva Não Remunerada do Exército Brasileiro. É
presidente do Conselho Nacional de Oficiais R/2 do Brasil, Diretor de Cultura e
Civismo da Associação Nacional dos Veteranos da FEB, membro da Academia de
História Militar Terrestre do Brasil e da Academia Brasileira de Defesa. É
autor do livro “O Resgate do Tenente Apollo” (2005 - Ed. CNOR)
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