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domingo, 10 de fevereiro de 2013

NATASHA E O 'ESTADO DITATORIAL MILITAR' - Élio Gaspari


Vivo a história do Brasil desde 1959, quando nasci. Sempre estive próximo dos militares e, ao longo da vida, sou testemunha da dedicação, do cuidado e do amor destes brasileiros pelo Brasil. Durante o período entre 1964 e 1984 o Brasil viveu um período em que tudo de bom e ruim que aconteceu foi atribuído aos governos militares. Sim, neste período os presidentes eram militares e, como todo militar aprende, a culpa pelos acertos e erros da tropa recai sempre sobre o Comandante, já dizia Sun Tzu.
Neste período vivemos uma intensa campanha de desmoralização, na qual as atrocidades, torturas, violações e crimes eram atribuídos, em sua totalidade, aos militares. Mesmo com a opressão e a censura os meios de comunicação e os meios de educação conseguiam atribuir a culpa de tudo aos militares.

Hoje em dia o governo constituído, que continua a fazer uma propaganda velada de desmoralização das Forças Armadas, não tem mais os militares como bode expiatório das lambanças na economia, na política e nas atitudes ditatoriais. Os militares se dedicam exclusivamente à suas atribuições constitucionais, não deixando que os usem para outros fins.

O jornalista Élio Gaspari publicou no jornal "O Estadão" o texto "NATASHA E O 'ESTADO DITATORIAL MILITAR'". No texto ele mostra como a participação dos civis nas ditaduras é esquecida e porque a imagem das ditaduras esta sempre associada à militares.
Fica aqui a questão: Quem são os ditadores com os quais convivemos? Eles são militares de carreira ou "militares" que fracassaram na carreira? Todos os ditadores gostam de usar farda ou o uso da farda é que inspira a confiança e a aceitação da população? O uso da farda esta associado à luta, à revolução?Fica então o texto para leitura e reflexão:



"NATASHA E O 'ESTADO DITATORIAL MILITAR'

Madame Natasha estudou na Faculdade de Direito do largo São Francisco e abandonou o curso para fumar maconha em paz. Ela se lembra de três professores, todos diretores da escola. Um, Luís Antônio da Gama e Silva, foi ministro da Justiça no governo do marechal Costa e Silva. Em junho de 1968, ele propôs que o governo baixasse um Ato Institucional. Em dezembro, redigiu o AI-5. "Gaminha", como os alunos o chamavam, foi substituído por outro ex-diretor da casa, o professor Alfredo Buzaid, cujo secretário-geral, Manoel Gonçalves Ferreira Filho, ocupou o mesmo cargo.

A partir dessa lembrança, Natasha decidiu oferecer uma de suas bolsas de estudo ao doutor Cláudio Fonteles, coordenador da Comissão da Verdade, pelo uso do conceito de "Estado Ditatorial Militar" em suas bulas.

Ela crê que Fonteles poderia dizer "Estado Ditatorial", botando civis na roda, pois sem eles não haveria atos institucionais e teria sido mais difícil manter as centrais de torturas montadas em quartéis.

Natasha sabe que há uma tendência para se atribuir aos militares os malfeitos, varrendo-se para baixo do tapete (persa) o integral apoio de civis a todas as ditaduras do mundo.

O doutor Fonteles já deve ter visto a famosa fotografia de Adolf Hitler em Paris, com a torre Eiffel ao fundo. Nela o Führer, de quepe, está ladeado por outras duas pessoas fardadas. Ele era cabo reservista da Guerra de 1914. Os outros dois, paisanos fantasiados. O da esquerda era o arquiteto Albert Speer, e o da direita, o escultor Arno Breker. (No seu ofício, Breker era melhor que Speer.)

O "generalíssimo" Stálin e o Duce Benito Mussolini também gostavam de usar farda. Um nunca entrara em quartel, o outro chegou a cabo em 1916."

Élio Gaspari
Jornalista em “O Estadão”
10 de fevereiro de 2013




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