Recebi o texto abaixo de um grande amigo. Li atentamente e pude verificar que existem pessoas que sabem e conhecem bem a história e aprenderam com ela como virar referência e emitir opiniões sensatas e baseadas. O texto do Alexandre Garcia me surpreendeu e melhorou minha opinião sobre ele. Ele, da mesma forma que 86% da nossa população, acredita que se um dia for necessário sacrificar a vida para defender nosso território e nossas instituições, somente as Forças Armadas terão honradez para fazê-lo. Tenham uma boa leitura.
"Gostaria de dizer algumas coisas
sobre o que aconteceu no dia 31/03/1964 e nos anos que se seguiram. Porque
concluo, diante do que ouço de pessoas em quem confio intelectualmente, que há
algo muito errado na forma como a história é contada. Nada tão absurdo,
considerando as balelas que ouvimos sobre o "descobrimento" do Brasil
ou a forma como as pessoas fazem vistas grossas para as mortes e as torturas
perpetradas pela Igreja Católica durante séculos. Mas, ainda assim,
simplesmente não entendo como é possível que esse assunto seja tão parcial e
levianamente abordado pelos que viveram aqueles tempos e, o que é pior, pelos
que não viveram.
Nenhuma pessoa dotada de mediano
senso crítico vai negar que houve excessos por parte do Governo Militar. Nesta
seara, os fatos falam por si e por mais que se tente vislumbrar certos aspectos
sob um prisma eufemístico, tortura e morte são realidades que emergem de
maneira inegável.
Ocorre que é preciso contextualizar
as coisas. Porque analisar fatos extirpados do substrato histórico-cultural em
meio ao qual eles foram forjados é um equívoco dialético (para os ignorantes) e
uma desonestidade intelectual (para os que conhecem os ditames do raciocínio
lógico). E o que se faz com relação aos Governos Militares do Brasil é
justamente ignorar o contexto histórico e analisar seus atos conforme o
contexto que melhor serve ao propósito de denegri-los.
Poucos lembram da Guerra Fria, por
exemplo. De como o mundo era polarizado e de quão real era a possibilidade de
uma investida comunista em território nacional. Basta lembrar de Jango e Janio;
da visita à China; da condecoração de Guevara, este, um assassino cuja empatia
pessoal abafa sua natureza implacável diante dos inimigos.
A grande verdade é que o golpe ou revolução
de 1964, chame como queira, talvez tenha livrado seus pais, avós, tios e até
você mesmo e sua família de viver essa realidade. E digo talvez, porque jamais
saberemos se isso, de fato, iria acontecer. Porém, na dúvida, respeito a todos
os que não esperaram sentados para ver o Brasil virar uma Cuba.
Respeito, da mesma forma, quem pegou
em armas para lutar contra o Governo Militar. Tendo a ver nobreza nos que
renunciam ao conforto pessoal em nome de um ideal. Respeito, honestamente.
Mas não respeito a forma como esses
"guerreiros" tratam o conflito. E respeito menos ainda quem os trata
como heróis e os militares como vilões. É uma simplificação que as pessoas
costumam fazer. Fruto da forma dual como somos educados a raciocinar desde pequenos.
Ainda assim, equivocada e preconceituosa.
Os grandes chefes militares não
permanecem inimigos a vida inteira. Mesmo os que se enfrentam em sangrentas
batalhas. E normalmente se encontram após o conflito, trocando suas espadas
como sinal de respeito. São vários os exemplos nesse sentido ao longo da
história. Aconteceu na Guerra de Secessão, na Segunda Guerra Mundial, no
Vietnã, para pegar exemplos mais conhecidos. A verdade é que existe entre os
grandes Generais uma relação de admiração.
A esquerda brasileira, por outro
lado, adora tratar os seus guerrilheiros como heróis. Guerreiros que pegaram em
armas contra a opressão; que sequestraram, explodiram e mataram em nome do seu
ideal.
E aí eu pergunto: os crimes deles são
menos importantes que os praticados pelos militares? O sangue dos soldados que
tombaram é menos vermelho do que o dos guerrilheiros? Ações equivocadas de um
lado desnaturam o caráter nebuloso das ações praticadas pelo outro? Penso que
não. E vou além.
A lei de Anistia é um perfeito
exemplo da nobreza que me referi anteriormente. Porque o lado vencedor (sim,
quem fica 20 anos no poder e sai porque quer, definitivamente é o lado
vencedor) concedeu perdão amplo e irrestrito a todos os que participaram da
luta armada. De lado a lado. Sem restrições. Como deve ser entre cavalheiros. E
por pressão de Figueiredo, ressalto, desde já. Porque havia correntes
pressionando por uma anistia mitigada.
Esse respeito, entretanto. Só existiu
de um lado. Porque a esquerda, amargurada pela derrota e pela pequenez moral de
seus líderes nada mais fez nos anos que se seguiram, do que pisar na memória de
suas Forças Armadas. E assim seguem fazendo. Jogando na lama a honra dos que
tombaram por este país nos campos de batalha. E contaminando a maneira de
pensar daqueles que cresceram ouvindo as tolices ditas pelos nossos comunistas.
Comunistas que amam Cuba e Fidel, mas que moram nas suas coberturas e dirigem
seus carrões. Bem diferente dos nossos militares, diga-se de passagem.
Graças a eles, nossa juventude sente
repulsa pela autoridade. Acha bonito jogar pedras na Polícia e acha que
qualquer ato de disciplina encerra um viés repressivo e antilibertário. É uma
total inversão de valores. O que explica, de qualquer forma, a maneira como
tratamos os professores e os idosos no Brasil.
Então, neste 31 de março, celebrarei
aqueles que se levantaram contra o mal iminente. Celebrarei os que serviram à
Pátria com honra e abnegação. Celebrarei os que honraram suas estrelas e
divisas e não deixaram nosso país cair nas mãos da escória moral que, anos
depois, o povo brasileiro resolveu por bem colocar no Poder.
Se você não gosta das Forças Armadas
porque elas torturaram e mataram, então, seja, pelo menos, coerente. E passe a
nutrir o mesmo dissabor pela corja que explodiu seqüestrou e justiçou, do outro
lado. Mas tenha certeza que, se um dia for necessário sacrificar a vida para
defender nosso território e nossas instituições, você só verá um desses lados
ter honradez para fazê-lo."
Alexandre Paz Garcia
Jornalista
31 de março de 2013